CIDADE (DO MILÉNIO) AGOSTINHO NETO

O ministro de Estado José de Lima Massano procedeu à colocação da primeira pedra da futura “Cidade do Século de Angola”, projecto imobiliário do grupo empresarial (obviamente) chinês Niodior, que está a nascer na Zona Económica Especial (ZEE) Luanda-Bengo, no município de Viana. Se, em vez do século fosse do milénio, chamar-se-ia certamente Cidade do Milénio Agostinho Neto.

O projecto está a ser implementado numa área de 3,1 milhões de metros quadrados, num investimento de mil milhões de dólares, e será desenvolvido em várias fases.

Na primeira, está a ser construído o “Novo São Paulo”, numa área de 600 mil metros quadrados, cuja conclusão está aprazada para o mês de Dezembro deste ano, e que servirá para a venda de pequenos produtos.

A iniciativa prevê, igualmente, a construção de centros comerciais para a venda de materiais de construção (a grosso e a retalho), lojas para a comercialização de produtos agro-alimentares, tecnologia de informação, espaço de lazer, centros desportivos (campo de golfe), um hotel de – pelo menos – cinco estrelas e residências de alto padrão. Um total de 1.800 trabalhadores angolanos e 200 chineses vão participar na construção das primeira e segunda fases da “Cidade do Século de Angola”.

O Governo está imparável. Depois da criação de 20 milhões de pobres, agora vira-se para novos elefantes brancos. Primeiro foi “Luanda 2030 – Cidade inovadora”. Depois a “Wall Street de Luanda”. Num reino de faz de conta, façamos de conta que somos um país.

Embora nem todos os peritos se mantenham no activo, recorde-se também que, por exemplo, o “Projecto Metro de Superfície de Luanda e os Desafios da Mobilidade”, chegou a ter ao leme os ministros dos Transportes, Ricardo Viegas de Abreu, das Obras Públicas e Ordenamento do Território, Manuel Tavares de Almeida, da governadora de Luanda, Ana Paula Chantre Luna de Carvalho, e outros rectângulos (quadros, se preferirem) seniores de diversos departamentos ministeriais e outros especialistas nacionais e internacionais.

Em Abril de 2021, o perito dos peritos cuja tese de doutoramento foi transformar Benguela na Califórnia, João Lourenço, criou uma comissão multissectorial, encabeçada pelo ministro dos Transportes, para preparar as condições para o lançamento da parceria público-privada responsável pela implementação do projecto Metro de Superfície de Luanda.

Em 22 de Setembro de 2014, na altura em que João Lourenço ainda estava a escrever a sua tese, o então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, anunciou em Luanda, que o Executivo iria aprovar um programa de expansão da rede viária e ferroviária da província.

O Chefe de Estado anunciou igualmente, a construção na zona sul de Luanda, de duas avenidas, sendo uma delas na Marginal da Corimba, com um metro de superfície, que iria melhorar a mobilidade.

“Na zona sul, por exemplo, além da Avenida da Corimba, surgirão mais duas, uma das quais, será a Marginal da Corimba, que vai ser uma avenida moderna, com um metro de superfície e mais de cinco quilómetros de praias à frente”, sublinhou, certamente já assessorado pelo californiano benguelense João Lourenço.

A província de Luanda deverá duplicar a população para mais de 13 milhões de habitantes até 2030, o que obrigará – por exemplo – à construção, nomeadamente, de 13 novos hospitais, 1.500 escolas e de 1,4 milhões de casas. Nada de problemático. Para resolver a questão basta um ajuste directo e pessoal para criar uma “joint venture” entre a Carrinho e a Omatapalo.

O diagnóstico da situação na província de Luanda estimava que 80% da população – um quarto de todo o país – vive em musseques. A independência foi há 48 anos, a paz chegou há 21 anos, desde 11 de Novembro de 1975 é o MPLA o dono disto tudo, o reino só tem 20 milhões de pobres o que – em síntese – revela que até já seria possível avançar para a criação da Cidade do Milénio Agostinho Neto.

Nesta área, o plano, designado de “Luanda 2030 – Cidade inovadora”, previa realojamento e regeneração de várias zonas da capital, nomeadamente nas classificadas de “prioridade muito alta”, por riscos de vida eminente ou inundação, entre outros problemas.

O executivo também previa a construção de infra-estruturas de saneamento básico, com dois novos sistemas, a norte e a sul da capital, a remoção da Estação de Tratamentos de Águas Residuais (ETAR) removida da marginal de Luanda e a “reutilização de efluentes tratados para agricultura e fins industriais”.

O distrito financeiro do projecto Baía de Luanda, também denominado “Wall Street de Luanda” seria a cereja no topo do enorme bolo do MPLA, no âmbito da Cidade do Milénio Agostinho Neto. O então Presidente Executivo da Baía de Luanda, Miguel Carneiro, e a administradora, Vera Massango, orgulhavam-se do projecto localizado junto ao Porto de Luanda, a Wall Street da capital angolana, uma parcela de 20 lotes de terreno.

Finalizado o projecto, a zona poderá contar com edifícios de escritórios e habitação, hotéis e áreas comerciais. O projecto Baía de Luanda, lançado em 2004, visou a requalificação daquela área, virando a sua frente de actividades para a construção de distrito financeiro, eventos, espaços comerciais, estacionamento, publicidade e residencial.

Segundo Miguel Carneiro, num momento de desaceleração da economia angolana o projecto reviu os seus objectivos de rentabilidade e adaptou-se ao novo paradigma económico, com vantagens mútuas para investidores e consumidores.

“Daí nós hoje termos espaços comerciais com modelo contratual muito flexível. Sabíamos que no mercado anteriormente cobravam-se rendas de um ano, por exemplo, para o arrendamento de um espaço, a baía de Luanda hoje cobra no seu modelo uma jóia de entrada de dois meses, e depois os lojistas vão pagando a renda à medida que estão a ganhar com o seu negócio”, explicou o responsável. Recordam-se?

Por sua vez, Vera Massango disse que pelas características da baía, os investidores “mesmo de uma forma tímida” têm procurado e visitado o projecto para informações sobre a zona residencial.

Miguel Carneiro considerou “entusiasmante” para o projecto o actual momento de crise, “por conseguir colocar e materializar um plano de negócios conservador”.

O responsável recordou que o projecto registou sempre, desde o seu início, algumas dúvidas por parte dos cidadãos, quanto à execução da sua limpeza, alargamento, criação de espaços verde e a sua manutenção, construção e competitividade.

“Tem sido um processo extremamente desafiante, continuamente provar que é possível. Mesmo no momento actual é possível a baía continuar a ter uma marginal de 3,1 km, mantê-la verde, com espaços para as famílias e lançar uma estratégia de trazer os investidores, lojistas e angolanos de todas as classes”, concluiu.

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